Não é barato, nem muito sustentável, mas o Chile investiu em canhões de neve artificial para assegurar a temporada de esqui, em meio às mudanças climáticas.

As mudanças climáticas são um dos principais fatores de instabilidade para as temporadas de neve no Chile, especialmente na região central do país.

Cientistas locais e internacionais vêm alertando que, até a metade do século, as temperaturas médias podem subir entre 1,4°C e 1,7°C, com um cenário ainda mais extremo até o final do século, com um aumento de até 3,5°C. Paralelamente, a quantidade de chuvas deve diminuir, principalmente durante o inverno, resultando em menos acúmulo de neve nas montanhas que cercam Santiago.

Estudos liderados pelo climatologista Raul Cordero, da Universidade de Santiago do Chile (USACH), já indicam uma diminuição significativa da cobertura de neve nos Andes: “Infelizmente, os novos dados confirmam o que já imaginávamos: que a neve nos Andes, não apenas na zona central do Chile mas praticamente em toda a cordilheira, está desaparecendo em um ritmo extraordinário, de ao menos 10% por década”, disse Cordeiro à BBC News Brasil.

ALTERNATIVA ESTÁ VIRANDO O PADRÃO

A produção de neve artificial se torna uma alternativa cada vez mais presente para sustentar as temporadas de esqui, permitindo que as estações prolonguem suas operações mesmo em anos menos nevados. O setor de neve artificial está em expansão e pode alcançar US$ 227,8 milhões até 2034.

Em Farellones, por exemplo, cerca de 15 canhões de neve estão em funcionamento; em El Colorado, são 27; e em Valle Nevado, a estação mais alta da região de Santiago, 33 canhões são utilizados.

A NEVE É ARTIFICIAL, O IMPACTO NÃO É

O setor enfrenta desafios devido aos altos custos de operação e ao impacto ambiental. A geração de neve artificial requer condições específicas de temperatura e umidade, além de uma infraestrutura complexa e custos elevados, incluindo alto uso de água, energia e internet.

Além disso, embora essencial para estender a temporada, a neve artificial cobre menos que a natural, limitando as operações das estações.

A neve artificial é mais densa do que a natural, o que significa que pode compactar o solo e impactar negativamente as plantas e o habitat local. Essa compactação prejudica o crescimento da vegetação e pode acelerar a erosão do solo.

Em alguns casos, são adicionados produtos químicos para melhorar a durabilidade ou textura da neve artificial. Esses aditivos podem escorrer para o solo e para os cursos d’água, contaminando o ecossistema local e afetando plantas e animais.

A atividade dos canhões de neve, muitas vezes operando durante a noite, cria ruído que pode perturbar a fauna local, especialmente em regiões montanhosas sensíveis. Além disso, a presença de neve artificial altera o ambiente natural e pode afetar os padrões de migração e a alimentação de algumas espécies.

A questão central permanece: até que ponto a tecnologia pode compensar as perdas impostas pelas mudanças climáticas?