Barcelona, Madri e outras cidades espanholas estão passando por uma transformação silenciosa — e ela começa pelas cafeterias. Em um cenário de turismo massivo e trabalho remoto em ascensão, bares e cafés na Espanha estão mudando suas regras para evitar que uma simples xícara de café ocupe mesas por horas.  A medida? Restrições de tempo, proibição do uso de laptops e até uma nova lógica de cobrança, baseada em quanto tempo o cliente permanece no local.

Caffè Perfetto em Barcelona.

(Foto: Bar Caffè Perfetto)

Na Barceloneta, bairro à beira-mar de Barcelona, o Caffè Perfetto, adotou uma tática incomum: o valor do espresso varia conforme o tempo de uso da mesa. Quem toma o café em até 30 minutos paga um valor. Ultrapassado esse limite, o preço dobra. Se passar de uma hora, triplica. A tabela gerou debates acalorados nas redes sociais e reacendeu uma discussão mais ampla: quem deve ditar o ritmo nos espaços públicos de consumo?

CAFÉS VIRAM ESCRITÓRIOS (ATÉ DEIXAREM DE SER)

Trabalhar em cafeterias virou uma alternativa popular para freelancers e nômades digitais — especialmente após a pandemia. Porém, o que antes era visto como uma vantagem pelos donos de cafés na Espanha (clientes que consomem com frequência e movimentam o local), hoje representa um novo desafio: menos rotatividade, consumo limitado e mesas sempre ocupadas.

Em bairros movimentados de Madri, como Lavapiés e Malasaña, já é comum encontrar avisos como “uso de laptop permitido por 2 horas” ou “proibido trabalhar aos fins de semana”. Em outras palavras, quando alguém se instala com o computador por horas, outros clientes simplesmente vão embora.

Cafés na Espanha

ENTRE O TURISMO E A VIDA LOCAL

A escalada de restrições não está desconectada da pressão do turismo nas grandes cidades. Com quase 94 milhões de visitantes estrangeiros em 2024, a Espanha é hoje o segundo país mais visitado do mundo, atrás apenas da França. Esse fluxo constante de turistas transformou bairros inteiros em vitrines — e fez com que muitos negócios se adaptassem para atender o volume crescente de visitantes.

Para os moradores, porém, o impacto é direto. Além do aumento no custo de vida e da moradia, há uma sensação de perda dos espaços comuns. Isto é, os cafés do bairro deixaram de ser pontos de encontro entre vizinhos e viraram parte da engrenagem turística.

Especialistas veem a mudança como reflexo de uma reconfiguração das dinâmicas urbanas. Cafés, antes símbolo de pausa e convivência, agora operam como hubs de produtividade ou extensão da indústria do turismo. Em ambos os casos, o tempo virou moeda.

O QUE ESPERAR DAQUI PARA A FRENTE?

Em tempos de inflação, turismo recorde e novas formas de trabalhar, os cafés na Espanha — especialmente os mais disputados — devem continuar repensando seu modelo de negócios. Para os consumidores, isso significa um novo pacto não verbal: beber um café pode continuar barato, desde que não se consuma algo ainda mais valioso — o tempo.

CONHEÇA BARCELONA 

Para quem vê Barcelona de cima de seus mirantes, vê quarteirões perfeitamente simétricos e uma avenida que corta, estrategicamente, a cidade inteira. Fica até difícil de imaginar a excentricidade que mora ali embaixo, mas a verdade é que existe uma densidade cultural tão grande nessa cidade que, uma vez que se adentra, a sensação é de que há sempre muito para conhecer: de grandes atrações até aquele lugar escondido atrás de portas pichadas e dono de uma experiência incrível.

Em outras palavras, Barcelona combina o poder de uma cidade completamente planejada com uma autenticidade local. É capaz de unir pessoas do mundo inteiro, lotar lugares de segunda a segunda, e de ter quase todas as portas grafitadas em uma manifestação ímpar de resistência social. Aliás, dá para dizer que Barcelona é uma espécie de caos organizado, e que ainda foi abençoado por um azul-mediterrâneo-lindo que percorre toda sua costa.

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