Em 8 de maio de 1945, a Alemanha nazista se rendeu incondicionalmente, marcando o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa — e a Marcha da Vida é um roteiro de memória.

Auschwitz. Foto: Renovabis

Para além das cerimônias oficiais, esse marco pode ser vivido por meio de viagens que incentivam reflexão e memória, como a Marcha da Vida  (March of Life), movimento internacional que transforma antigos caminhos de dor em rotas de reconciliação.

Para milhões, o fim do conflito trouxe alívio, mas deixou cicatrizes profundas, especialmente nas comunidades judias, devastadas pelo Holocausto. Em 2025, a rendição completa 80 anos.

Criada em 2007 na cidade alemã de Tübingen por descendentes de membros da Wehrmacht, a Marcha da Vida organiza caminhadas em locais históricos ligados à perseguição aos judeus, como campos de concentração, trilhas de deportação e bairros destruídos pelas atrocidades nazistas. O objetivo é claro: lembrar, dar voz a sobreviventes e seus descendentes, e assumir a responsabilidade histórica, um compromisso também entre os próprios alemães.

COMO FUNCIONA

A iniciativa é aberta ao público e ocorre anualmente em diversos países, com destaque para anos simbólicos como 2025. Inclusive, em cada cidade, os participantes percorrem trechos a pé, vivenciando momentos de silêncio, escutando testemunhos, visitando memoriais e participando de atos simbólicos.

Em 2025, eventos já estão planejados para Berlim, Cracóvia, Viena, Budapeste, Vilnius e Jerusalém.

A programação tem o apoio de comunidades judaicas, grupos inter-religiosos e instituições de memória.

Aqui estão alguns dos pontos mais importantes por onde os participantes costumam passar, com foco nas edições que acontecem na Europa e em Israel:

1. BERLIM (ALEMANHA)

  • Memorial do Holocausto: Este monumento imponente, composto por centenas de blocos de concreto, é um dos maiores símbolos da memória do Holocausto em Berlim. Inclusive, ele está localizado perto do Portão de Brandemburgo e é um ponto de reflexão sobre as vítimas do regime nazista.

  • Antigo Campo de Concentração de Sachsenhausen: Situado a cerca de 35 quilômetros de Berlim, o campo de Sachsenhausen foi um dos maiores campos de concentração do regime nazista. Quer dizer, muitos judeus e prisioneiros políticos foram mantidos e mortos ali.

  • Museu Judaico de Berlim: Embora não seja um campo ou memorial de extermínio, este museu conta a história da comunidade judaica na Alemanha, incluindo o período do Holocausto.

Marcha da Vida: Memorial do Holocausto.

Memorial do Holocausto. Foto: Mundo Vasto Mundo

2. CRACÓVIA (POLÔNIA)

  • Antigo Campo de Concentração de Auschwitz-Birkenau: Auschwitz é um dos locais mais significativos relacionados ao Holocausto. Durante a marcha, os participantes visitam o campo de concentração e o campo de extermínio de Birkenau, onde mais de um milhão de judeus foram mortos. Em outras palavras, a caminhada até o memorial de Auschwitz é um momento de profunda reflexão.

  • Kazimierz (bairro judeu): Embora seja um bairro histórico que remonta à presença judaica em Cracóvia, Kazimierz é também um lugar de memória, já que muitos dos judeus locais foram deportados durante o Holocausto.

Marcha da vida: Auschwitz

Auschwitz. Foto: GetYourGuide

3. BUDAPESTE (HUNGRIA)

  • Memorial da Árvore da Vida (Dohány Street Synagogue): Este memorial é dedicado aos judeus húngaros que foram mortos durante o Holocausto. Inclusive, a árvore de metal simboliza a memória das vítimas e é um dos pontos de homenagem da marcha.

  • Bairro Judeu e o Ghetto de Budapeste: Durante a ocupação nazista, o bairro judeu foi transformado em um gueto. A marcha, por sua vez, passa por essa área, onde muitos judeus foram forçados a viver antes de serem deportados.

  • O Memorial da Linha do Ghetto: A linha de tijolos no chão marca o limite do gueto em Budapeste, lembrando o lugar onde milhares de judeus viveram em condições desumanas antes da deportação.

O Memorial da Linha do Ghetto.

4. JERUSALÉM (ISRAEL)

  • Yad Vashem – Museu do Holocausto de Jerusalém: Yad Vashem é o maior memorial dedicado às vítimas do Holocausto em Israel e é um local central para a marcha. A caminhada geralmente inclui a visita a este museu e memorial, onde são feitas homenagens às vítimas e sobreviventes.

  • Muralhas da Cidade Antiga de Jerusalém: Embora não diretamente associado ao Holocausto, o percurso pode incluir caminhadas em áreas simbólicas, como as muralhas da cidade, que têm uma forte carga histórica em Israel.

Yad Vashem – Museu do Holocausto de Jerusalém

5. VILNIUS (LITUÂNIA)

  • Ghetto Judeu de Vilnius: Durante a ocupação nazista, um dos maiores guetos foi estabelecido em Vilnius, e muitos judeus foram assassinados ou deportados para campos de extermínio. A marcha passa por locais históricos relacionados ao gueto.

  • Memorial de Paneriai: Localizado nos arredores de Vilnius, Paneriai foi o local de execução em massa de judeus durante a ocupação nazista. O memorial é um importante ponto de reflexão durante a marcha.

Memorial de Paneriai. Foto: Vilniaus Gaono žydų istorijos muziejus

6. VIENA (AUSTRIA)

  • Memorial do Holocausto de Viena: Localizado perto do centro de Viena, o memorial presta homenagem aos judeus austríacos que morreram durante o Holocausto.

  • Campo de Concentração de Mauthausen: Embora fique a cerca de 120 quilômetros de Viena, Mauthausen costuma integrar os roteiros da marcha por ter sido um dos campos de concentração mais cruéis do regime nazista.

Campo de Concentração de Mauthausen. Foto: TripAdvisor

QUEM PODE PARTICIPAR?

Qualquer pessoa pode participar, independentemente de religião, nacionalidade ou envolvimento prévio com a causa. Muitos viajantes se juntam às marchas por conta própria ou em grupos organizados por universidades, escolas, igrejas ou ONGs.

O movimento também incentiva a participação de jovens e descendentes de vítimas ou perpetradores, reforçando o compromisso intergeracional com a memória histórica.

QUANTO CUSTA?

A participação nos eventos é gratuita, mas os custos com passagens, hospedagem e alimentação são responsabilidade dos participantes. Além disso, algumas marchas oferecem guias e voluntários, e há grupos que oferecem pacotes completos com traslado, ingressos para museus e visitas guiadas.

Inclusive, para mais informações, é possível acompanhar as atualizações no site oficial.

POR QUE IR?

Para quem busca uma experiência além do turismo convencional, a Marcha da Vida oferece uma vivência intensa, humana e transformadora. Ao caminhar por locais onde a história foi vivida — ou apagada — o viajante é convidado não só a aprender, mas a tomar um papel ativo na preservação da memória.

Por fim, em um ano tão significativo, marcado pelos 80 anos do fim do regime nazista, essa pode ser uma das formas mais poderosas de viajar: não apenas para observar, mas para lembrar e compreender profundamente.

CONHEÇA BERLIM

Berlim é uma cidade progressista e, ao mesmo tempo, dá a sensação que parou no tempo. Ao visitá-la, você vai reparar na quantidade de restaurantes e bares à luz de velas. Tão logo irá perceber que poucos lugares aceitam cartão e entender que muita coisa rola no boca a boca. Aliás, não é difícil imaginar uma amizade que começou no trem ou devido a um elogio qualquer num dos milhares de cafés cool espalhados pela cidade.

A autenticidade de Berlim é sua marca registrada. É consequência da sua história turbulenta, seguida de muita resistência política. Da separação e então união entre os lados ocidental e oriental (percebida ainda em muitos níveis). Da necessidade de ressignificar lugares abandonados. Além da quantidade quase incomparável de jovens de todos os cantos do mundo.

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