Um livro por país, para celebrarmos o Dia do Leitor.
Ler é como viajar. O livro é um portal capaz de te fazer enxergar detalhes que seus olhos jamais viram, ouvir histórias íntimas de gente que você não conhece, transitar entre passado, presente ou futuro.
Desde pequena a biblioteca foi meu refúgio, acredito que foram os livros, e a possibilidade de conhecer tantas histórias, que fizeram os caminhos da minha vida se tornarem estradas. Ler me colocou em movimento, me deixou curiosa pelo desconhecido, me expandiu e misturou o mundo imaginário e o mundo real.
Ler é uma das grandes fortunas da humanidade e, no Dia do Leitor, selecionei, pessoalmente, livros que me transportaram e me fizeram explorar o mundo mais e melhor.
Baseei minhas escolhas em livros que já li e que me deram a sensação de atravessar fronteiras.
Na minha viagem ao Sri Lanka, li sobre a guerra civil por uma perspectiva tão interessante, onde dor e humor, ciência e religião se misturam. Viajei pela India lendo as palavras pesadas e cheias de vida de um livro que traduzia tanta coisa que observava sem compreender.
Às vezes, esqueço que nunca fui ao Japão; porque, do meu quarto em São Paulo, li uma pequena-grande-obra que me transportou à Tóquio. Já Svetlana expandiu meu mundo externo mas, especialmente, interno, com um livro de 400 páginas feito de relatos das mulheres que lutaram no front pela União Soviética.
Esse e outros livros, selecionados à dedo, te carregam até onde a sua imaginação te levar.
Agora, vamos à lista:
1. CEM ANOS DE SOLIDÃO – Gabriel García Márquez (Colômbia)
Nessa obra, o sobrenatural é tratado como algo corriqueiro, misturando elementos do realismo mágico.
Através dessa narrativa, Gabriel García Márquez explora temas como o amor, a solidão, o destino e a repetição das gerações, refletindo sobre a história e a cultura da América Latina.
Um clássico que virou hype: Considerada uma das obras-primas da literatura mundial, “Cem anos de solidão” conta a história da família Buendía, em Macondo, uma cidade fictícia fundada por José Arcadio Buendía. Agora, tem filme — para ver só depois de ler o livro, claro.
2. AMERICANAH – Chimamanda Ngozi Adichie (Nigéria)
Uma obra para devorar, mas a digestão não é fácil!
- Foto: Lis Fonseca
- Foto: Homo Literatus
Ta aí um livro que me transportou sem sair de casa — fui para a Nigéria e para o Estados Unidos.
O livro “Americanah” segue a vida de Ifemelu, uma jovem nigeriana que emigra para os Estados Unidos para estudar e se tornar uma blogueira famosa.
O romance aborda o conceito de “ser negro” nos Estados Unidos, explorando as complexidades da diáspora africana e a diferença e semelhanças entre a América e a Nigéria.
Chimamanda Ngozi Adichie nos convida a questionar nossas próprias ideias sobre pertencimento: O que significa ser parte de um país e de uma cultura? Ao mesmo tempo, destaca as lutas do empoderamento feminino e o impacto das escolhas pessoais ao longo da vida.
3. OS MISERÁVEIS – Victor Hugo (França)
Um passado antigo que ainda se faz presente.
- Foto: Vitamia Nerd
- Foto: Roberto Vargas Jr.
Publicado em 1862, “Os Miseráveis” é uma das obras maiores obras literatura francesa. A obra aborda temas de justiça social, pobreza, amor, moralidade, política e a luta por uma vida melhor.
O romance se passa durante o período pós-revolucionário francês e segue vários personagens, incluindo Jean Valjean, um ex-presidiário que busca redenção.
Através de suas tramas e subtramas, Hugo faz com que seus leitores questionem seus direitos, deveres e humanidade. Os personagens, com suas virtudes e falhas, são uma janela para os dilemas sociais e pessoais que continuam a ecoar até hoje.
O filme é um complemento do livro. Por ser um musical, é capaz de trazer uma profundidade, um tom, diferente à obra.
4. A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER – Svetlana Alexievich (Bielorrússia)
Quando pensamos em guerra, nos vem o rosto de homens — porque “A guerra não tem rosto de mulher”.
Mas sabia que mulheres soviéticas lutaram na Segunda Guerra Mundial? Da lavanderia ao front, essas mulheres, às vezes meninas, fizeram história.
- Foto: Bookster
- Foto: Franscisco Mendes
Esta obra de não-ficção, que ganhou o Prêmio Nobel, é uma coletânea de relatos de mulheres que lutaram como parte do Exército Soviético.
Svetlana Alexievich explora as experiências dessas mulheres, revelando a brutalidade do conflito e a maneira como suas histórias foram muitas vezes negligenciadas pela história oficial. A autora traz à tona essa perspectiva-revolucionária, mostrando como a guerra as moldou de maneiras diferentes dos homens.
As marcas da guerra são reais, mas suas histórias são silenciadas — se não fosse pelo trabalho de resgate como esse que nos transporta a outro país e outro tempo.
5. MISO SOUP – Ryū Murakami (Japão)
Um livro pequeno, mas com mensagens imensas, que nos dá todos os detalhes para que nos transportemos a Tóquio e sua cena do turismo sexual.
- Foto: Indica Livros
- Foto: Tokyo Weekender
“Miso Soup” é um thriller psicológico e o plano de fundo é a capital do Japão, especificamente Kabuki-cho, o bairro boêmio e repleto de prostituição da cidade.
6. AS SETE LUAS DE MAALI ALMEIDA – Shehan Karunatilaka (Sri Lanka)
Li uma vez que o livro retrata o massacre da guerra civil do Sri Lanka com humor niilista. Concordo.
Ficção e realidade, religião e ciência, dor e humor se misturam para contar a história de um fotógrafo de guerra, durante a guerra civil do Sri Lanka.
“As sete luas de Maali Almeida” segue o protagonista Maali, que é assassinado e retorna como um espírito em busca de respostas para seu assassinato.
A obra mistura elementos de fantasia e realismo, ao mesmo tempo que explora a história recente do Sri Lanka, marcada pela guerra civil e os conflitos étnicos. O livro toca em questões de identidade, política e o efeito da guerra na vida das pessoas, sendo uma reflexão sobre a perda e a memória.
7. O DEUS DAS PEQUENAS COISAS – Arundhati Roy (Índia)
Fiquei um mês na Índia e, ainda sim, senti que minha vivência foi como uma gota no oceano. Existem muitas Índias e esse livro retrata apenas uma delas; uma versão, por sua vez, muito intensa e intimista. Aborda temas como o sistema de castas, os tabus sociais, a política e os efeitos do colonialismo.
Este romance de estreia de Arundhati Roy, que ganhou o Booker Prize, segue a vida dos irmãos Estha e Rahel, que cresceram no estado de Kerala, no sul da Índia. A história se passa na década de 1960 e utiliza a narrativa não linear, alternando entre o presente e o passado. É repleto de simbolismo e complexidade emocional, destacando a luta dos personagens contra as expectativas sociais e familiares.
8. TODAS AS CORES DO CÉU – Amita Trás (Índia)
Olhar o mundo no olho não dá pé! Uma outra Índia é retratada nessa obra, das histórias mais tristes que se pode imaginar — prostituição infantil.
A história acompanha duas meninas. Uma delas é Mukta, uma jovem de origem humilde destinada a uma vida de servidão devido às tradições do seu vilarejo na Índia; a outra é Tara, filha de uma família abastada que a acolhe.
Apesar de suas origens distintas, as duas meninas criam uma conexão profunda e tornam-se inseparáveis.
No entanto, suas vidas mudam drasticamente quando Mukta é raptada e desaparece. Anos depois, já adulta, Tara retorna à Índia determinada a encontrar sua amiga de infância, mergulhando em um submundo sombrio e perigoso que revela o tráfico de mulheres e as desigualdades sociais que permeiam a sociedade indiana. A jornada de Tara é tanto uma busca por respostas quanto um confronto com suas próprias memórias e sentimentos de culpa.
Amita Trasi constrói um romance delicado e poderoso. É um retrato vívido da Índia contemporânea.
E com isso, te convido a ler mais e viajar muito. Tenha uma boa viagem!