Dei a volta na Islândia de carro, no inverno, e, dessa rota, me abriram estradas viscerais. A partir da minha experiência viajando pelas estradas islandesas, compartilho alguns ‘atalhos’: a escolha da campervan, o custo e até te ensino a ler ‘os mapas’. Mas lembre-se: não abuse muito dos atalhos, pois na Islândia a estrada é tão parte quanto o destino.

Esse é o tipo de viagem apanhada por quem tem o coração como norte, deixa o sonho bom entrar, fazer morada e ditar os novos caminhos. Apaixonada pela Islândia, de escutar Sigur Rós, Bjork e questionar porque tantos islandeses acreditam em elfo nesse país cheio de ateus, que combinação é essa de frio com sorvete e como assim, cavalos tem quatro trotes e ficam soltos por aí?

E dentre essas minhas piras me foi compartilhado um fato muito interessante: tem uma estrada que dá a volta completa na Islândia.

Pronto, nascia aí um sonho, aparentemente caro e, portanto, que precisaria de muito tempo e planejamento para ser vivido. Mas aí juntou mais outra pessoa para sonhar junto, dividiu-se o tempo e o planejamento,  suficiente para fazer um esboço das datas, e aí já fizemos o que um bom viajante faz sem ordem cronológica razoável: compramos a passagem. Agora, tudo mais possível deveria ser desvendado sobre visitar à terra dos mistérios islandeses.

Detalhe, tão ‘bons viajantes’ fomos que tivemos que estender as datas e mudar as passagem: resultado final, embarcávamos para a uma viagem na Islândia por 10 dias, no começo de março e no fim do inverno.

Nessa viagem, atravessei a fumaça dos géisers, caminhei em geleiras, entrei em cavernas, presenciei a força das cachoeiras, vi icebergs de perto, assim como baleia e focas, e fui muito feliz.

Agora que você já sabe que não bato bem e que essa viagem é uma aventura, posso me apresentar oficialmente. Prazer, sou a Carolina, uma das editoras da revista Travel.

IR NO INVERNO À TERRA DO GELO

Dá um frio na barriga? Essa é a ideia. Islândia é daqueles lugares que dá um sacode no nosso sistema, julgo que a natureza é deveras democrática por aqui — todo mundo sofre, rs; e já digo, pior que o frio, é o vento. O tipo de viagem para quem gosta de aventura, das boas.

Fomos no mês de março. Além de ser o final do inverno, o que significa menos frio, também significa volume de água mais intenso e a possibilidade de ver a aurora Borel com o céu mais limpo. Ganhei tua atenção com assunto Aurora Boreal? Baixe esses aplicativos, fique expert que nem nós e busque sozinho as luzes que dançam no céu. Nós, conseguimos ver o fenômeno três vezes!

Aqui estão alguns aplicativos úteis para observar a aurora boreal na Islândia:

  • My Aurora Forecast: Este aplicativo fornece previsões em tempo real da aurora boreal, incluindo alertas quando as condições são favoráveis para a visualização. Você pode ver a atividade solar e a previsão de nuvens, além de um mapa interativo para planejar suas saídas.
  • Aurora Alerts: Oferece notificações sobre a atividade da aurora boreal e previsão de visibilidade. O aplicativo utiliza dados de sensores para informar quando a aurora é visível na sua área.
  • Aurora Forecast & Alerts: Este aplicativo combina previsões meteorológicas com a atividade da aurora, permitindo que os usuários saibam quando e onde é mais provável ver as luzes. Ele inclui um mapa das melhores áreas para visualização.
  • Northern Eye: Um aplicativo mais focado em fotografia da aurora boreal. Ele fornece dicas e configurações recomendadas para capturar as melhores imagens da aurora.
  • Weather Apps (e.g., Weather.com, AccuWeather): Embora não sejam específicos para a aurora boreal, esses aplicativos fornecem previsões meteorológicas detalhadas, incluindo a cobertura de nuvens e a atividade solar, que são essenciais para planejar suas saídas.

Março é um dos picos para ver a aurora Boreal na Islândia. O céu ainda está suficientemente escuro e as noites longas, além de coincidir com um pico de atividade solar. Com menos tempestades e um clima relativamente mais ameno em comparação aos meses anteriores, as chances de avistamento aumentam.

ACOMODAÇÃO SOB RODAS: CAMPERVAN

Primeiro fato, ir em março. Fato número dois, vamos viajar de campervan.

Na hora de escolher o tipo de carro-acomodação, vieram mil perguntas, dentre as principais: Tem que ser 4×4? Precisa de aquecedor? Não e sim.

As F-Road, estradas de montanha que dão acesso ao ‘centro’ do país, são geralmente acessíveis apenas por veículos 4×4 e só abrem no verão. Para quem vai no inverno, não é preciso ter um 4×4, já que as F-Road estarão fechadas. Já o aquecedor tem que ter, não tente economizar pegando uma campervan sem aquecedor em pleno inverno.

Escolhemos campervan ao invés de trailer pelo custo. O custo do aluguel de uma campervan básica, por dez dias, sem ser 4×4 e com aquecedor, saiu € 800  — o que pode sair bem mais caro dependendo do tipo de carro, se tem geladeira ou não, por exemplo. Além disso, considere, em média, mais €  10 a cada noite que estacioná-lo nos camping. Alugamos a nossa campervan pela Go Campers.

Aliás, ponto importante sobre o camping: em teoria não se pode estacionar em qualquer lugar, mas os próprios islandeses vão te dizer que tudo bem parar por aí. No entanto, pagar por um lugar para pernoitar pode também significar banheiro, chuveiro e às vezes até cozinha. Fizemos assim, um dia camping com estrutura, um dia acampando selvagem.

Está incluso no valor o fogareiro, panela, pratos e outros utensílios necessários, mas você pode pagar extra por ainda mais conforto, como cobertores, colchão etc. Assim, cozinhamos quase todos os dias, com direito a muito hot dog e sorvete, dois elementos importantíssimos dessa cultura nórdica.

Pausa para um fato curioso: Os islandeses têm uma relação especial com o sorvete, consumindo-o o ano todo, inclusive no inverno. Essa tradição está ligada ao senso de conforto familiar, com sorveterias sempre cheias, mesmo em tempestades. O sorvete é de alta qualidade, feito com ingredientes locais, como o leite puro islandês e, além disso, os islandeses acreditam que consumir algo frio em um clima gelado pode ajudar o corpo a se ajustar às baixas temperaturas.

ROUTE ONE: O COMEÇO E O FIM

Para quem pousa na capital, o começo da viagem é Reykjavik e o final também. A Route One, ou Ring Road como também é conhecida, é realmente um círculo perfeito e, dado este fato, decidimos ficar os primeiros dias na capital, começando a nossa imersão pelo viés cultural, e depois partir viagem.

Exploramos as pálidas e, paradoxalmente, coloridas ruas da capital, com direito a rua de arco-íris, casas coloridas, igreja cinza metade católica metade viking. Além dos elementos surpresa, tipo pessoa vestida de elfo e papo muito simpático de gente que tem tempo para dar. E, por fim, no último dia, fomos buscar o carro.

Comecei a me dar conta da complexidade dessa viagem nesse exato momento, ao alugar o carro. Foi quase uma hora de explicações, avisos e recomendações dadas pela moça da concessionária. Cuidado com o vento que pode virar um furacão em algumas horas, vulcões podem entrar em erupção sem aviso prévio, carros tombam com facilidade, portas voam, a praia Vik é sujeita a tsunamis ‘surpresa’…

Para garantir a nossa segurança e também para otimizar a viagem, a cada manhã, a partir desse dia, deveríamos conferir ‘os mapas’.

Mapas de Estradas (Road Maps)

  • Vegagerðin (Road.is): O site da Autoridade Rodoviária da Islândia oferece informações atualizadas sobre as condições das estradas, mostrando quais estão abertas, fechadas ou com gelo. Esse mapa é essencial para planejar a viagem, principalmente no inverno.
  • F-Roads Map: F-Roads são estradas de montanha, geralmente acessíveis apenas por veículos 4×4. Elas são fechadas na maior parte do ano e só reabrem no verão, por isso é importante saber se você pode ou não transitar por elas.

Mapas meteorológicos

  • Vedur.is: O serviço meteorológico islandês fornece um mapa detalhado com previsões de clima, além de alertas de tempestades de neve, vento forte e erupções vulcânicas. Consultar esse mapa é essencial para evitar imprevistos causados pelo clima.

Mapas de estações de serviço

  • Na Islândia, os postos de gasolina podem ser escassos em algumas áreas, especialmente no interior. Leve um mapa que mostre onde estão localizadas as estações de serviço para não ficar sem combustível no meio do nada.

Mapas de acampamento

  • Existem áreas designadas para acampar, e você deve saber onde estão localizados os campings autorizados. Há aplicativos e mapas específicos que mostram onde você pode parar legalmente sua campervan para passar a noite.

Mapas de trilhas e Parques Nacionais

  • Se você pretende explorar áreas como o Parque Nacional de Thingvellir ou a região de Landmannalaugar, é bom ter um mapa de trilhas atualizado. Muitas vezes, as trilhas são sinalizadas, mas ter uma referência com você ajuda a evitar se perder.

O CAMINHO É TAMBÉM A VIAGEM

Uma, duas até três horas sem contato algum com a espécie humana; a sensação é de que se o fim do mundo ‘existe’, ele provavelmente fica aqui.

As estradas se transformam em poucos minutos, de lugares totalmente brancos pela neve e a neblina à lugares onde o verde toma conta. Aliás, a Islândia te coloca em movimento, mesmo quando se está parado: ventos estrondosos e gelos que derretem e formam as sneaky waves; há de se estar, muito, atento.

Dos meus perrengues, quase fui mordida por um cavalo selvagem, cai em uma poça de água em meio a uma trilha mal sinalizada, me escondi de furacões, quase perdi a porta do carro e tive que secar meu cabelo no secador de mão. Essa é para quem gosta de uma aventura: como eu amo, voltaria mil vezes. Mas o aconchego também se faz presente, nas águas termais ou nos cafés e restaurantes dos vilarejos.

No meio do caminho, paramos para dormir perto de um vulcão, próximo as fiordes, em vilarejos pitorescos, em cabanas aconchegantes ou até perto de um supermercado sem nenhuma graça. Afinal, os mapas tem de ser atualizados com frequência, porque as informações mudam rapidamente e, às vezes, o jeito é ficar um dia inteiro quentinho no canto esperando o tempo sossegar.

Vamos ao caminho:

Tem quem comece pelo Sul, mais turístico, e depois vá para o outro lado.  Fazer assim, significa que começariamos pelo lugares mais cheios até irmos nos isolando, pouco a pouco. A vantagem de fazer o que fizemos, e inverter o sentido, é que temos mais tempo para curtir o mais selvagem e aí deixamos a parte mais turística para o tempo que der. Quer dizer, ficamos bem mais encantados pela parte norte.

1. Sul da Islândia

  • Reykjavík: Comece pela capital, um bom ponto para conhecer a cultura local, museus e a famosa igreja Hallgrímskirkja.
  • Cachoeira Seljalandsfoss: Conhecida por permitir que visitantes caminhem por trás da queda d’água.
  • Cachoeira Skógafoss: Próxima de Seljalandsfoss, oferece uma trilha até o topo para boas vistas.
  • Praia Reynisfjara: Famosa pelas areias negras e colunas de basalto, ideal para fotos e apreciação da natureza.

Cachoeira Seljalandsfoss

2. Vík

  • Vík: Cidade próxima à praia de Reynisfjara, é um bom lugar para descansar e aproveitar as vistas.

3. Círculo Dourado

  • Parque Nacional Thingvellir: Importante por seu valor histórico e geológico, onde placas tectônicas se encontram.
  • Geysir: Área geotérmica com o gêiser Strokkur, que entra em erupção regularmente.
  • Cachoeira Gullfoss: Uma das cachoeiras mais visitadas da Islândia, com suas quedas impressionantes.

Foto: Reykjavik Excursions

4. Leste da Islândia

  • Fiordes Orientais: Conhecidos por suas montanhas e vilarejos, como Seyðisfjörður, que tem uma vibe artística e colorida.

5. Norte da Islândia

  • Akureyri: A segunda maior cidade da Islândia, é um bom ponto para explorar a região.
  • Lago Mývatn: Famoso por suas áreas vulcânicas e fontes termais, além da rica biodiversidade.
  • Húsavík: Conhecida por passeios de observação de baleias.

6. Caminho para o Oeste

  • Skagaströnd: Um vilarejo que oferece um estilo de vida mais tranquilo e natureza ao redor.

7. Oeste da Islândia

  • Reykholt: Local com história literária e geotérmica, ideal para uma parada.
  • Borgarnes: Cidade que fornece acesso a várias atrações naturais, como a Cachoeira Hraunfossar.

8. Retorno a Reykjavík

  • Campos de lava e paisagens acidentadas: No caminho de volta, aproveite as vistas dos campos de lava e das montanhas que compõem a paisagem islandesa.


E por fim, voltar de onde veio — lembrando que não existe isso de “caminho de volta” e, com certeza, essa viagem de transformará bastante e muito. Aos corajosos, boa viagem! E se precisarem tirar mais dúvidas, comentem aqui embaixo.