Para além do litoral paradisíaco e adentrando o sertão acalorado, o rio São Francisco corre seus últimos quilômetros de curso bem no limite entre os estados de Sergipe e Alagoas. Servindo de fronteira natural entre os dois estados, é essa porção do rio que acomoda seu último trecho navegável, antes de despejar sua corrente nas águas salgadas do Atlântico. Quem viaja a Alagoas tem a chance de admirar esses dois segmentos do rio, e assim apreciar de perto a magnificência do rio mais importante do Nordeste.

O Cânion do Xingó, no município sertanejo de Delmiro Gouveia, leva os viajantes por um trajeto sobre as águas do Velho Chico e entre impressionantes paredões de pedra, aproveitando a proximidade da água para aliviar o sol quente. Em direção ao oceano, na vila de pescadores de Piaçabuçu, o rio usa suas últimas forças para verter no mar alagoano, onde turistas e locais banham-se em águas doces e salgadas.

Essas duas atrações se localizam no extremo sul de Alagoas. Por ser costeira, Piaçabuçu fica um pouco mais perto de Maceió, a 140 quilômetros de distância. O percurso de carro, seguindo o litoral, dura em torno de duas horas, tornando a ideia de um bate-e-volta razoável. Já Delmiro Gouveia fica no interior do estado, quase na fronteira com Pernambuco, a 300 quilômetros da capital. Leva no mínimo quatro horas para chegar aqui, portanto é mais recomendado pernoitar na cidade de Piranhas, de onde também é possível fazer o passeio à Rota do Cangaço.

 

CÂNION DO XINGÓ

 

De canoa é feita a travessia por entre os paredões do Cânion do Xingó. Foto: Sedetur/Kaio Fragoso.

 

A travessia de barco através do Cânion do Xingó só é possível devido ao represamento do rio São Francisco durante a construção da Hidrelétrica de Xingó, nos anos 90. As formações rochosas que você vai ver ali, no entanto, são 100% naturais e igualmente estonteantes, e o Xingó é considerado o quinto maior cânion navegável do mundo.

A travessia é feita na porção alagoana do rio, mas o passeio parte do Restaurante Karrancas, na cidade sergipana de Canindé de São Francisco. Caso escolha se hospedar em Piranhas, há uma rota de 20 minutos para chegar a Canindé. As saídas do restaurante são feitas de catamarã, e saem por volta de R$ 100 por pessoa (sem alimentação inclusa). 

Há ainda outra opção: algumas operadoras familiares fazem o passeio de lancha voadeira, com menos pessoas e melhor custo-benefício, em média por R$ 120. As lanchas evitam os horários utilizados pelos catamarãs, permitindo mais liberdade e exclusividade aos viajantes. Procure contatar o Lucas no número (82) 8754-5472; sua empresa familiar gerencia o uso de três voadeiras e conta com a participação de seus pais e irmãos.

Sobre as águas do São Francisco, os paredões se erguem dos dois lados do rio, agigantando-se sobre o barco e refletindo suas tonalidades de amarelo, laranja e vermelho sobre o esmeralda da água. Os guias apontam formações naturais como a Pedra do Gavião, a Pedra do Japonês e o Morro do Macaco.

Um passeio opcional (e pago à parte!) é oferecido para desbravar a Gruta do Talhado, deixando os passageiros próximos o bastante dos paredões para tocá-los. O passeio da Gruta é curto, em torno de 15 minutos, e custa R$ 10, mas vale a pena para contemplar os veios e realces nas rochas de perto. O sol reflete na água e projeta desenhos belíssimos nas paredes estreitas do trecho, fazendo desta a parte mais bonita do passeio.

O roteiro faz uma pausa ao chegar no porto flutuante de Brogodó, onde duas áreas para banho foram delimitadas com cercas flutuantes. A menor das áreas tem também um cercado no fundo para limitar a profundidade a 1,50 metros, ótimo para crianças e para quem não sabe nadar. São distribuídas boias (espaguete) e coletes salva-vidas a todos os banhistas, já que o trecho do rio ali chega a 20 metros de profundidade. O espaço para banho é um pouco limitado, e pode lotar em fins de semana ao ponto de ficar desconfortável, mas o frescor das águas do rio é muito bem-vindo no calor do sertão. 

 

FOZ DO VELHO CHICO

 

Uma faixa de areia separa o Atlântico do Velho Chico em Piaçabuçu. Foto: Sedetur/Grupo Treis

 

Nossa segunda opção de passeio no Velho Chico é visitar a cidadezinha de Piaçabuçu, no sul de Alagoas, e conhecer a foz do rio São Francisco. Este é outro roteiro totalmente focado na apreciação das belezas naturais do nosso país, portanto não espere uma grande estrutura de restaurantes, hotéis ou lojas: a foz se encontra em área de preservação, onde a instalação desses serviços é proibida. 

Um pouco sobre Piaçabuçu: a vila de pescadores é cenário de cinema, tendo sido utilizada como paisagem principal do filme Deus é Brasileiro (2003), com Antônio Fagundes e Wagner Moura. Ainda assim, o vilarejo se mantém simples e bucólico, e os próprios pescadores fazem os passeios de barco até a foz, reunindo seus receptivos em frente ao mercado municipal da cidade. O valor médio cobrado é de R$ 70. Também há a possibilidade de reservar o passeio com operadoras de Maceió, com traslado da capital incluso, por um acréscimo de R$ 60 a R$ 70 ao valor.

O percurso do barco leva pelo delta do rio São Francisco, em meio às matas, os coqueiros e as dunas que margeiam suas águas, até alcançar o encontro do rio com o mar. Ali, o barco aporta e libera seus passageiros para explorar as dunas de areia e tomar um banho na água meio doce, meio salgada. Ali, os ribeirinhos vendem produtos artesanais como esculturas de madeira e, nossa sugestão de compra, coloridas cocadas de diversos sabores típicos do estado.

 

QUANDO IR AO RIO SÃO FRANCISCO

 

O Velho Chico corta o sertão nordestino, região árida de pouquíssima precipitação e calor incessável, portanto não há tempo errado para fazer esse passeio — mesmo durante o inverno, estação das chuvas nos estados do Nordeste, pegar dias seguidos de chuvarada constante é extremamente atípico. 

Os trechos que fluem pelo território alagoano também não sofrem mudança relevante com as épocas das cheias e vazantes. Claro que, para correr o menor dos riscos de temporal, nossa recomendação é evitar os meses de junho, julho e agosto, tradicionalmente os mais chuvosos do ano.