Apesar do fim do apartheid nos anos 1990, a África do Sul e, principalmente, a Cidade do Cabo — a cidade com a maior população branca do país — seguem divididas. Isto é, o obscurantismo do regime segue vivo através da segregação que é hoje econômica e geográfica. As periferias da cidade, como o bairros Bo-Kaap, atestam essa realidade.
O bairro muçulmano cujo nome significa “acima do cabo”, ou ainda “cabo alto”, está aos pés do monte Signal (onde você tem uma das mais belas vistas para a cidade, o pôr do sol e a Table Mountain) e, com suas casas coloridas, foi e segue sendo um símbolo de resistência.
O BAIRRO DOS ESCRAVOS MUÇULMANOS
Desde seu início, no século 18, o bairro assentou os povos do Sudeste Asiático, principalmente da Malásia e da Indonésia, escravizados pelos holandeses. Mas mesmo depois da abolição da escravidão, os agora livres ‘malaios do cabo’ — ou “cape malays”, permaneceram nesse bairro espremido nos pés do morro, com suas ruas de pedra.
Aliás, os malaios são as pessoas que vêm da Malásia e Indonésia, mas na Cidade do Cabo, qualquer imigrante muçulmano acabava sendo chamado dessa forma
Diferentemente do District Six, o bairro próximo, Bo-Kaap permaneceu intacta. Enquanto o bairro foi declarado exclusivo para brancos durante os anos 1960. A medida forçou a expulsão de mais de 60.000 pessoas não-brancas de suas casas — num dos capítulos mais tristes da história da Cidade do Cabo. E foi quando acabou o apartheid que os moradores decidiram colorir suas casas para simbolizar a diversidade presente no local: seja na cor das pessoas, no idioma, nos sabores ou nos aromas.
O QUE FAZER EM BO-KAAP?
Não chegue muito cedo nem vá aos domingos para poder vivenciar toda essa fusão cultural! E, principalmente, não deixe de experimentar as comidas típicas (herança ancestral dos moradores, adaptada à cultura local) como os pastéis indianos samosa, recheados com batata, ervilha e muito tempero.
Inclusive, há pacotes oferecidos por residentes locais para que você aprenda a preparar pratos malaios. Enquanto cozinha, descobre as histórias desses alimentos. E no fim, se delicia enquanto aprecia uma boa conversa sobre os costumes e curiosidades da região. O valor dessa experiência custa aproximadamente US$ 40.
E não deixe de ir ao Iziko Bo-Kaap Museum (Monumento Nacional desde 1965). Mobiliado como uma típica casa muçulmana do século XIX, o museu conta a história da comunidade local.