Sabia que em meio ao árido cerrado do Goiás existe uma microrregião banhada por mais de mil cachoeiras? É aqui, na Chapada dos Veadeiros, onde as águas das bacias dos rios Paraná e Maranhão se dividem. E embaixo deste lugar, existem cristais de quartzo de todos os tamanhos — estes conhecidos por sua habilidade de filtrar a energia dos passos dados por cada um que cruza essas terras. Se existe um portal para o ‘mundo invisível’, ele provavelmente fica aqui, na Chapada dos Veadeiros, perto dos mistérios cravados nas suas paisagens impressionantes, datadas de milhões de anos.
Estamos falando da savana mais rica do mundo, formada por cristais e rochas variadas, algumas das mais raras do mundo. Essa também que é um centro dispersor de drenagem, divisor de água dos Rios Paraná e Maranhão, e afluente do Rio Tocantins, na sua parte mais alta. É habitada pela maior comunidade de remanescentes de quilombolas de Goiás, os Kalungas, e por uma quantidade incrível de espécies endêmicas.
Um dia aqui se resume a acordar cedo, tomar um café reforçado, fazer trilhas até as cachoeiras e só voltar quando o Sol se pôr. E de volta ao seu lugarejo, São Jorge ou Alto Paraíso, sair para aproveitar o centrinho.
REGIÕES
Até existem outros municípios na Chapada – Cavalcante, Campos Belos, Colinas do Sul, Monte Alegre de Goiás, Nova Roma, São João D’Aliança e Teresina de Goiás -, mas nada se compara ao município de Alto Paraíso, a capital da Chapada, e São Jorge, região que faz parte do município a 30 minutos de lá. Por isso, as pessoas se hospedam por aqui, a menos que queiram visitar cachoeiras mais próximas a Cavalcante, que fica a 1h30 de carro de Alto Paraíso.
Além das cachoeiras, o município de Cavalcante tem forte presença Kalunga, descendentes dos escravos fugidos e libertos das minas de do ouro. Aliás, a região está passando por um processo de estruturação para poder dividir o palco com Alto Paraíso e São Jorge. Mas, enquanto isso, o charme das noites iluminadas pelo varal de luzes, o barulho das conversas nos bares e os pés ‘forrozeantes’ ficam guardados nesses dois municípios.
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VEADEIROS EM RISCO
E por mais incrível que seja, está ameaçada. A Chapada dos Veadeiros está sendo fragmentada pelo agronegócio que ameaça esse bioma que só tem 0,85% de áreas oficialmente protegidas. No entanto, é importante ressaltar que as raízes do problema do cerrado são bem mais profundas, permeiam também o turismo em massa, a mineração e o aumento da população.
Há pouco tempo, a Chapada dos Veadeiros toda era bem mais remota, com menos opções de tudo e, claro, menores preços, menos acesso. Em dez anos o turismo na Chapada cresceu em 223%, contudo, o brilho-da-noite ainda reflete lindamente por aqui. Especialmente nesses dois lugarejos, que trazem movimento e vida para o árido cerrado, revelando seus dois mundos: o do dia e o da noite. Porque com o clima fresco que vem depois do Sol, a vontade é de ficar rodopiando por aí.
Sendo Alto Paraíso o maior e o mais estruturado entre os municípios, ele também conta com o maior número de estabelecimentos e é o mais movimentado. Contudo, ainda que seja relativamente maior, tudo aqui pode ser acedido a pé pelas suas ruas de asfalto.
Uma curiosidade sobre Alto, é que aqui se concentram o maior número de araras que, frequentemente, sobrevoam nossa cabeça. Aliás, aqui também acontece, toda terça e sábado, a Feira do Produtor Rural, uma troca maravilhosa entre as culturas do cerrado e os viajantes curiosos.
Já em São Jorge a rua é de terra batida. O cenário alaranjado é iluminado graciosamente pela noite, o clima aqui é mais íntimo e os (relativamente) poucos restaurantes são muito bons. A marca registrada da cidade é o Encontro de Culturas. Esse evento anual celebra a ancestralidade e a diversidade.